ANSIEDADE
Pergunta 01 COMO DIFERENCIAR ANSIEDADE DE MEDO?
Embora a linha que separe os termos ansiedade e medo seja bastante tênue, para estabelecer uma compreensão didática podemos dizer que ansiedade é uma manifestação de natureza subjetiva e o medo é uma expressão que envolve características objetivas. Na ansiedade ocorre uma apreensão indefinida, uma angústia por algo que ainda não aconteceu ou um suposto perigo que a pessoa imagina existir e que, todavia, não é concreto. Por exemplo, alguém que tenha marcado uma entrevista de emprego para o dia seguinte fica extremamente ansioso e não consegue dormir pela possibilidade de fracassar naquela tentativa. Por sua vez, no medo há um receio ou temor efetivo contra algo que é real, perceptível aos sentidos, ainda que não seja claramente um risco. Por exemplo, o medo de cobras, de baratas, de trovoadas, de lugares altos, etc. Em realidade, é certo afirmar que ambos caminham de mãos dadas produzindo reações orgânicas e psíquicas perturbadoras.
Pergunta 02 O QUE ACONTECE COM O ORGANISMO QUANDO A ANSIEDADE VEM? QUE SINAIS ELE EMITE E EM QUAIS PARTES DO CORPO?
Durante episódios agudos de ansiedade, como nos ataques de pânico, o corpo rapidamente se prepara criando um estado de defesa graças ao alarme emitido pela interpretação de um perigo iminente. Há uma descarga maciça dos chamados hormônios de estresse, encabeçados pela adrenalina, que desviam maior cota de fluxo sanguíneo para zonas como o cérebro e os músculos a fim promover aporte de oxigênio e facilitar o trabalho destas áreas.
O surgimento de reações agudas de ansiedade geram sintomas universais que são bastante desconfortáveis dependendo do grau em que se manifestem e afetam vários sistemas do organismo. Palpitações decorrentes do aumento da frequência cardíaca, falta de ar, sufocação, tremores, transpiração excessiva, dor no peito, dor abdominal, mudança do hábito intestinal, visão turva, sensação de calor alternado com frio, “formigamento” nas extremidades são os principais. De forma subjetiva, uma apreensão quase incontrolável, sensação de desmaio ou de que a pessoa vai morrer ou ainda ter um ataque cardíaco naquele momento são sintomas presentes comuns no ataque de pânico. Esse desconforto dura em média até uma hora reduzindo posteriormente para níveis de menor tensão.
Pergunta 03 A ANSIEDADE É NCESSÁRIA PARA O SER HUMANO? ELA PODE SER POSITIVA EM ALGUM GRAU?
A ansiedade não é um desejo ou uma escolha. Ninguém decide ser ansioso. Ela é um processo emocional resultante da aprendizagem e transmitido através das gerações. Nos primórdios da evolução humana, a luta pela sobrevivência, a necessidade de abrigo e defesa contra animais ferozes e contra o clima hostil foram as primeiras experiências que geraram a apreensão e a ansiedade. Na idade medieval o combate entre os clãs, a luta pela posse de terras e bens, a escassez de alimento, a brutalidade praticada em nome da religião que formalizou um critério de punição divina nas bases da violência complementaram o registro da ansiedade e do medo na coletividade. Isso se reflete hoje nos conceitos que apresentamos e nos comportamentos preventivos que adotamos para nos defender e proteger daquilo que consideramos perigoso ou ameaçador.
Certamente, a ansiedade é um evento normal e até mesmo necessário para nos precavermos de acidentes e situações que podem comprometer a vida. Necessitamos dela para muitos fins que evitam danos maiores caso o alerta e a vigilância não sejam postos em prática tais como ao atravessar uma rua movimentada, cuidar dos filhos pequenos, usar objetos cortantes, caminhar por terrenos íngremes, fugir de animais ameaçadores, proteger-nos de tempestades. Entretanto, ela se torna patológica ou exacerbada quando a reação ansiosa é desproporcional ao estimulo eliciado ou quando ela acontece na ausência de estimulo qualquer evidente. Em resumo, a ansiedade é patológica quando atrapalha o funcionamento global do indivíduo. Por exemplo, se uma pessoa tem medo de baratas e demonstra um estado intenso de perda de controle ao ver o inseto, não podendo em momento algum sequer imaginá-lo sem que eclodam sinais de desconforto emocional, estamos provavelmente diante de um quadro de Fobia Específica (ligada a baratas). Num segundo exemplo, uma pessoa entra no metrô e, repentinamente, começa a passar mal percebendo o vagão em movimento e que não há como saltar dali. Logo em seguida, inicia uma serie de sintomas de ansiedade que configuram um ataque de pânico. Em um terceiro exemplo, alguém entra em um restaurante para almoçar. Senta em uma mesa, faz sua refeição, mas começa a ficar ansioso porque crê que os que estão em volta o observam comer e isso para ele é ameaçador ou motivo de grande retraimento. Passa a tremer, a suar copiosamente, a ter uma necessidade premente de se ausentar dali. Ele levanta, deixa sua refeição e parte. Trata-se neste caso de um provável Transtorno de Ansiedade Social, antigamente conhecido como Fobia Social.
Na medida em que a ansiedade se torne patológica, inibindo o nosso desempenho sadio no cotidiano, a intervenção de um profissional especializado se faz necessária para orientar e tratar os distúrbios inerentes a ela.
Pergunta 04 QUANDO A ANSIEDADE FOI RELATADA COMO DOENÇA?
Podemos reconhecer valiosos estudos sobre a ansiedade a partir do final do século XIX e início do século XX, sobretudo, com Freud e suas pesquisas no campo das neuroses de ansiedade ou neuroses de angustia. Essas investigações se ampliaram posteriormente com o aperfeiçoamento da psiquiatria como ciência, dos estudos de psicofarmacologia a partir da década de 60 e da neurociência que aprofundou o conhecimento biológico dos fatores hormonais e neuroestruturais envolvidos nos sintomas de ansiedade. Porém, o estigma e o preconceito da população geral sobre essa doença ainda são marcantes, sendo considerados de menor importância os efeitos e consequências que esse transtorno acarreta. Cabe uma conscientização rigorosa no momento em que vivemos de que a ansiedade pode minorar muito a qualidade de vida levando a severos prejuízos o indivíduo e a coletividade como um todo.
Pergunta 05 TRANSTORNOS DE ANSIEDADE NÃO PREJUDICAM SOMENTE OS QUE TEM, MAS TAMBÉM QUEM CONVIVE COM O PACIENTE, CERTO? DE QUE FORMA ESSES TRANSTORNOS PREJUDICAM A RELAÇÃO COM FAMILIARES E AMIGOS? COMO ESSAS PESSOAS PODEMA AJUDAR O PACIENTE?
Quando uma pessoa é acometida de um transtorno de ansiedade, o sofrimento que ela experimenta acaba por envolver o seu entorno, particularmente os membros familiares e amigos próximos que lhe partilham o convívio. Isto é quase inevitável. No TOC ou Transtorno Obsessivo-Compulsivo vemos várias situações em que o paciente inclui os familiares em seus rituais compulsivos consumindo muito tempo nas repetições, produzindo neles intenso desconforto e causando fortes desentendimentos no lar; no Transtorno de Pânico o paciente evita locais, situações e experiências pela ansiedade antecipatória de acontecer o pior ou de passar mal no ambiente. Esses eventos seriam muito gratificantes que participasse em família, mas como evitam, desanimam os familiares tornando o relacionamento prejudicado.
A colaboração da família é vital, sobretudo, exercendo a capacidade de não julgamento. Estamos atualmente em uma grande conscientização contra a psicofobia. Discriminar o paciente portador de transtornos mentais não cabe mais no nível de entendimento em que nos achamos.
Pode haver a impressão precipitada e imatura de que essas doenças de caráter ansioso, em verdade, “são coisas da cabeça” do paciente, são “frescura” ou “preguiça”. Mas, não são! Ninguém vive assim porque quer. Se houvesse uma maneira de se libertarem facilmente como, muitas vezes, são julgados poder fazer, já o teriam feito. Acompanho familiares que tentando infundir ânimo no paciente afirmam a ele: “Você tem tudo, não lhe falta nada. Por que fica deste jeito? Sai dessa enquanto há tempo”; “Você tem uma vida pela frente. É jovem, inteligente. Pare com isso! Você consegue”. Ora, se fosse simples assim, já teriam conseguido. Justamente por não conseguirem vencer sua ansiedade, seus temores; exatamente por precisarem de ajuda, sofrem duplamente. Afirmações como essas não auxiliam, embora bem intencionadas, é claro.
O apoio familiar parte primacialmente da compreensão de que a doença é real, produz severa limitação em todas as áreas de vida, acarreta intenso sofrimento e requer terapêutica especifica e bem conduzida. Hoje, o acervo terapêutico é amplo e eficaz podendo auxiliar sobremaneira na modificação das condições clínicas do paciente. Reconhecer o problema, compreendê-lo na sua dinâmica limitadora, acolher o paciente na sua dor e incentivar o tratamento buscando todos os recursos cabíveis, esse é papel em âmbito familiar.
Pergunta 06 SE NÃO TRATADA, O QUE A ANSIEDADE PODE CAUSAR NA VIDA DO PACIENTE ALÉM DOS PREJUIZOS FISICOS?
Ansiedade é, sem dúvida, uma doença que leva a perdas significativas ao longo do tempo em todos os campos do funcionamento individual. A ansiedade e o medo bem como a sensação de impotência global que eles provocam conduz o indivíduo à pobreza de relacionamentos, isolamento social, retraimento de competências, abandono de oportunidades profissionais, supressão do lazer. Com isso, a alegria de viver vai se dissipando e doenças co-mórbidas podem surgir, particularmente, a depressão que está intimamente associada aos quadros ansiosos. Comumente encontramos também uma relação com o abuso e dependência de substâncias (álcool e drogas ilícitas), a dependência de internet e jogos eletrônicos, transtornos relacionados ao controle dos impulsos (compras em excesso, dependência de jogos de azar) como um meio alternativo (prejudicial) de relação consigo e com o mundo.
O tratamento psiquiátrico e modelos de psicoterapia altamente eficazes para esse transtorno como a TCC (Terapia Cognitivo-Comportamental) podem ajudar o paciente a minorar seu sofrimento aprendendo técnicas que o levem a reestruturar sua visão a respeito de si mesmo, do mundo a sua volta, do seu futuro. Mais ainda, incorporar novas habilidades sociais, de interação com as pessoas, de comunicação saudável, de autocuidado. Jamais se negar a buscar apoio e ajuda especializada.
CYBERBULLYING
O QUE É O CYBERBULLYING?
Cyberbullying é o termo criado para definir uma forma específica de violência caracterizada por aplicar agressões e ameaças através do mecanismo virtual ou da internet.
Na atualidade encontramos um novo universo de comunicação que vem a cada dia se expandindo e é conhecido como meio virtual de contato no qual é possível, a qualquer distância, interagir constantemente e em tempo real. Nele as pessoas conversam, investem em negócios, fazem amigos, matam a saudade, escrevem, compartilham notícias e documentos, fazem operações bancárias, compram objetos, assistem a filmes.
Essa gama de possibilidades experimentada no mundo virtual vem viabilizando também comportamentos inapropriados, dentre eles, o de agredir outras pessoas por meio de mensagens ameaçadoras, conteúdos difamatórios, textos ofensivos, publicação de fotos pessoais sem o consentimento da vítima, veiculação de imagens obscenas, exigências coercitivas, extorsão, numa evidente lesão dos direitos civis do indivíduo.
A ocorrência se acentua entres os adolescentes que, muitas vezes, até mesmo numa impressão de ser brincadeira, assediam a vítima nas redes sociais (facebook, Twiter) ou ainda em grupos no Whatsapp, servindo-se de deboches, relatos a respeito de fatos íntimos, palavras humilhantes, zombarias, vídeos que denotam preconceito, conclamando a participação de outros que engrossam a investida e amplificam os prejuízos morais acarretados.
QUAL O TIPO DE CYBERBULLYING MAIS COMETIDO?
Pela ampla variedade de ações de que se pode utilizar para gerar agressão através dos meios virtuais, verificamos largo espectro de comportamentos abusivos. Porém, com o crescente acesso às redes sociais e aplicativos de mensagens em tempo real (Whatsapp e Telegram) entre adolescentes que hoje têm fácil acesso ao computador e ao celular, apontamos como incidência alarmante a veiculação de imagens ofensivas ou obscenas, textos que levam a vítima a se sentir humilhada ou rejeitada, palavras que depreciam um aspecto físico ou psicológico especifico, incentivo ao grupo com o fim de que ela seja desprezada ou ridicularizada são eventos muito encontrados no âmbito escolar. Consideramos a agressão e a difamação os tipos marcantes de Cyberbullying.
QUAIS SÃO AS CONSEQUENCIAS PARA A PESSOA QUE É VÍTIMA DO CYBERBULLYING?
Quando uma pessoa é vítima de Cyberbullying as consequências podem ser imprevisíveis e, certamente, muito danosas.
Levando em conta as consequências de ordem social, devemos recordar que o mundo virtual é diferente do mundo presencial no que tange à observação. Neste último o acesso à informação é, naturalmente, gradativo, o que conhecemos como “boca a boca”, enquanto que no anterior este mesmo acesso é volumoso numa mínima fração de tempo.
Geralmente, no Bullying presencial comumente visto nas escolas, há quase sempre um membro que toma a frente da agressão ou fator humilhante. Os demais assistem ao quadro e o propagam na classe e outros territórios, tornando-se também ameaçadores e coautores do ato.
No Cyberbullying a difamação ou o preconceito veiculado pode atingir milhões em minutos conduzindo a uma repercussão muito mais drástica e cruel e, como é mais esperado, o autor se conserva no anonimato.
Em nível psicológico o constrangimento em que se envolve a vítima pode produzir um estado de intenso retraimento, vergonha e frustração que a faz isolar-se da família e dos amigos, imaginar-se “diferente” ou inferior aos demais, incompetente para solucionar suas próprias demandas e dificuldades. Uma vez que essas crenças sejam evocadas de maneira forte, a depressão é o transtorno mais associado com baixa autoestima, desinteresse por estímulos antes prazerosos, afastamento do contato com os outros, baixo rendimento escolar, prejuízo da concentração e do estabelecimento de metas. É muito importante atentar para o fato de que o risco de suicídio pode estar presente em indivíduos suscetíveis, que carregam algum transtorno mental (depressão, TDAH) ou possuem fraca rede de apoio que os aconselhe.
ADMITIR PARA OS PAIS QUE SOFRE DE CYBERBULLYING É SEMPRE UM DESAFIO. COMO DEVE SER ESSA CONVERSA A FIM DE EVITAR PRECONCEITOS MAIORES?
Um dos fatores agravantes que percebemos para a dificuldade de diálogo com os pais é o medo da punição. O receio de que o aparelho celular ou o notebook lhe seja tirado, o medo de sofrer represálias, castigos e incompreensão da família faz com que o adolescente evite falar abertamente sobre o seu problema. Outro aspecto importante é o da vergonha e o de parecer ridículo. Muitos adolescentes não contam aos pais que sofrem Cyberbullying pela impressão que têm de parecerem impotentes, fracos diante da situação. Pela necessidade exagerada que muitos sentem de que seus pais tenham orgulho deles, carecem de uma aceitação ou aprovação por essas importantes figuras de apoio que os cercam e tal revelação poderia transmitir a ideia de fracasso e passividade.
Portanto, cabe também aos pais essa capacidade especial de se abrirem ao diálogo sem crítica ou depreciação. Eles, sobretudo, precisam estar atentos aos sinais do Cyberbullying (tristeza, irritabilidade, retraimento, inquietação e suspeitas, isolamento da família e amigos, alterações do apetite e do peso, sintomas de ansiedade, queixas frequentes sobre a própria inutilidade ou menosvalia aliados a um hábito de permanecer horas a fio no celular ou computador, faltar às atividades escolares, sentir dores inexplicáveis e justificar-se demais para não ir à escola) e abordar seus filhos com clareza e acolhimento, sem julgamentos, permitindo uma aproximação tranquila e uma conversa sadia e esclarecedora. Intimidar jamais ajuda em momento algum. Acolher e esclarecer, usando energia e bom senso, é o elemento de equilíbrio.
COMO LIDAR COM O CYBERBULLYING?
Habitualmente, os adolescentes evitam repartir essas experiências relacionadas ao Cyberbullying com pais e responsáveis pela interpretação errônea de que tudo vai piorar se comunicarem seu sofrimento. Ao contrário, deve haver um estímulo ao diálogo franco e aberto a fim de medidas competentes sejam tomadas.
O melhor antídoto contra Cyberbullying ainda é a prevenção por atitudes de conscientização do problema. A implementação de um espaço para discussão a respeito nas escolas, fomentando debates que instruam alunos e pais sobre os sinais indicadores, o papel do autor e da vítima, as consequências danosas desse comportamento e os instrumentos de prevenção disponíveis para coibir esse tipo de Bullying são recursos vitais que vão favorecer novos hábitos estimulando um clima de cordialidade e cooperação, superando preconceitos desnecessários em diversos níveis.
Além disso, estabelecer ao mesmo tempo uma conscientização sobre o uso disciplinado da internet uma vez que o alcance aos sites que exibem sensualidade e expõem fotos e vídeos com práticas sexuais ou violência explícita está praticamente acessível a qualquer internauta.
Os pais precisam acompanhar mais de perto o acesso dos filhos à internet, mormente as redes sociais, orientando o manuseio saudável dos perfis e paginas consultadas. O cuidado com a publicação de fotos pessoais, escolha criteriosa na aceitação de amigos que terão acesso aos conteúdos publicados, evitar fornecer dados pessoais e contatos nas redes, abster-se de navegar em sites incertos, de conteúdo duvidoso ou desconhecidos e, principalmente, informando os pais sobre qualquer ocorrência suspeita, tirando dúvidas sem receio sobre como agir em situações de risco.
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O Transtorno da Compulsão Alimentar Periódica (TCAP), conhecido entre os americanos como Binge Eating Disorder, é uma patologia psiquiátrica cada vez mais reconhecida como prevalente em nosso meio e que atinge homens e mulheres na mesma proporção. Durante um bom tempo ficou subdiagnosticada, seja por carência de informação e alerta, seja pelo preconceito relacionado ao peso e ao comer em excesso.
Portadores do TCAP, habitualmente, têm sobrepeso. Pelo menos 45% cursam com obesidade. O restante mantém um IMC dentro da normalidade.
Clinicamente, o TCAP se caracteriza por momentos em que há uma ingestão rápida e considerável de alimentos durante um curto período (em média duas horas), pelo menos duas vezes por semana, dentro do qual não há controle sobre o que e o quanto se come. Também não existe uma ligação com preferências alimentares como, por exemplo, o consumo exagerado de doces. Os tipos de alimentos são diversos e o que importa mais é a quantidade ingerida. A pessoa necessita sentir-se "cheia", saciada acima do normal para interromper o ciclo de ingestão. Normalmente, após a fase imediata de prazer e alívio, como é de se esperar, sobrevêm frustração e sentimento de culpa. É comum a prática de comportamentos autopunitivos em virtude desse hábito compulsivo.
Vale ressaltar aqui que sentar-se em um restaurante e comer demais não representa o TCAP. Geralmente, o ataque aos alimentos é feito em clima de isolamento, distante da avaliação alheia em função do embaraço experimentado.
Diferente da Bulimia Nervosa ou da Anorexia Nervosa, no TCAP não há estratégias compensatórias de eliminação como uso de laxantes e diuréticos ou provocação de vômitos. Quando se aplicam estas estratégias de compensação, deve-se mudar o diagnóstico de TCAP.
Encontramos co-morbidades importantes em associação com o TCAP como a Depressão e os transtornos de Ansiedade. Mesmo na ausência específica destas situações, fatores como autoestima pobre, culpa e menosvalia, baixa tolerância à frustração, labilidade emocional e prejuízos na aceitação da própria imagem têm destaque como características da personalidade.
O tratamento requer uma abordagem multidisciplinar envolvendo psicofármacos, psicoterapia (preferencialmente a TCC - Terapia Cognitivo-Comportamental), cuidados nutricionais bem como mudanças no estilo de vida.